terça-feira, 11 de outubro de 2011

Traveling without moving

1 comentário:

  1. Na véspera de não partir nunca
    Ao menos não há que arrumar malas
    Nem que fazer planos em papel
    Com acompanhamento involuntário de esquecimentos,
    Para o partir ainda livre do dia seguinte.
    Não há que fazer nada
    Na véspera de não partir nunca.
    Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego!
    Grande tranquilidade a que nem sabe encolher ombros
    Por isto tudo, ter pensado o tudo
    É o ter chegado deliberadamente a nada.
    Grande alegria de não ter precisão de ser alegre,
    Como uma oportunidade virada do avesso.
    Há quantas vezes vivo
    A vida vegetativa do pensamento!
    Todos os dias sine linea
    Sossego, sim, sossego...
    Grande tranquilidade...
    Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
    Que prazer olhar para as malas fitando como para nada!
    Dormita, alma, dormita!
    Aproveita, dormita!
    Dormita!
    É pouco o tempo que tens! Dormita!
    É a véspera de não partir nunca!
    - Fernando Pessoa

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